ONU Estabelece Novas Metas Globais Contra a Resistência Antimicrobiana

Internacional

Em uma reunião de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, líderes mundiais assinaram uma declaração política crucial para combater a crescente ameaça da resistência antimicrobiana (AMR). O problema, que contribui para quase 5 milhões de mortes anuais, foi tema de debate e resultou em um compromisso conjunto para ações concretas e metas ambiciosas voltadas à mitigação desse desafio global.

A declaração, apresentada em 26 de setembro, enfatiza a necessidade de um aumento significativo no financiamento de pesquisas para o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas, além de ressaltar a importância de esforços coordenados para fortalecer os sistemas de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento. Essas nações, que enfrentam um impacto desproporcional da AMR, foram citadas como prioridade na declaração, que aponta a necessidade de “solidariedade global e cooperação internacional” para resolver o problema.

Metas Financeiras e Estruturação Global

Entre os principais objetivos estabelecidos está a arrecadação de US$ 100 milhões até 2030, com o intuito de garantir que pelo menos 60% dos países tenham seus planos de combate à resistência antimicrobiana totalmente financiados. A diversificação das fontes de financiamento também é incentivada, com destaque para o fortalecimento de mecanismos já existentes, como o Fundo Fiduciário Multi-Parceiro para a Resistência Antimicrobiana (Antimicrobial Resistance Multi-Partner Trust Fund).

Os líderes mundiais ainda destacaram a abordagem integrada “Saúde Única” (One Health), que reconhece a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. Essa perspectiva é essencial para combater a AMR, já que o uso excessivo ou inadequado de antibióticos em humanos, animais e plantas é um dos principais fatores para o surgimento de patógenos resistentes a medicamentos.

A Crise da Resistência Antimicrobiana

A AMR já é uma crise de saúde global, agravada pela dificuldade em desenvolver novos antibióticos eficazes. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, destacou a gravidade do problema ao relembrar a importância dos antibióticos desde a descoberta da penicilina, que transformou infecções letais em doenças tratáveis. “A resistência antimicrobiana ameaça reverter esse progresso, tornando-a um dos desafios de saúde mais urgentes do nosso tempo”, afirmou Tedros.

Ele reforçou que os compromissos presentes na nova declaração podem desacelerar a disseminação da AMR e ampliar o acesso a medicamentos antimicrobianos, como antibióticos, além de incentivar o desenvolvimento de novos fármacos.

Principais Compromissos

A declaração política é composta por 106 pontos, organizados em temas como governança, financiamento, pesquisa, saúde humana, agricultura e meio ambiente. Entre os compromissos, está a expansão dos serviços de saneamento básico e a gestão adequada de resíduos, especialmente nos países em desenvolvimento, uma medida vista como crucial para a prevenção de infecções.

Um dos objetivos globais é garantir que, até 2030, pelo menos 70% dos antibióticos utilizados na saúde humana façam parte do grupo de acesso da OMS, que inclui medicamentos com menor risco de causar AMR e poucos efeitos colaterais. No setor agrícola, a meta é reduzir significativamente o uso de antimicrobianos, promovendo práticas de prevenção e controle de infecções baseadas em evidências científicas e no uso responsável desses medicamentos na saúde animal.

Além disso, foi destacada a urgência de prevenir a contaminação ambiental por antimicrobianos, ampliando a pesquisa sobre as consequências ambientais da resistência antimicrobiana.

Impactos Econômicos e Projeções Futuras

A AMR não afeta apenas a saúde global, mas também impõe um fardo econômico substancial. A declaração alerta que, até 2050, os custos adicionais de saúde relacionados à AMR podem chegar a US$ 1 trilhão por ano. Além disso, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) global pode variar entre US$ 1 trilhão e US$ 3,4 trilhões anuais até 2030.

O tratamento de infecções bacterianas resistentes a medicamentos pode custar até US$ 412 bilhões por ano, enquanto as perdas relacionadas à força de trabalho e produtividade podem alcançar US$ 443 bilhões. No setor pecuário, prevê-se uma redução de 11% na produção em países de baixa renda até 2050, como resultado direto da AMR.

Referências:

Medscape

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