Em meio a um cenário de aumento expressivo nos casos de dengue, o Brasil se prepara para uma campanha de vacinação desafiadora, com a prioridade clara: crianças e adolescentes, faixa etária entre 6 e 16 anos. Entretanto, o início da campanha enfrenta incertezas devido à oferta limitada de doses, levando a discussões sobre estratégias e prioridades.
No centro desse planejamento está a vacina Qdenga, produzida pela farmacêutica japonesa Takeda. Prevista para iniciar em fevereiro, a campanha ainda carece de definições quanto à distribuição, locais de aplicação e idade exata do público-alvo. O Ministério da Saúde, em reunião com especialistas em imunização, busca otimizar a distribuição das 5,2 milhões de doses iniciais, uma oferta que pode chegar a seis milhões com possíveis doações da fabricante.
A decisão de priorizar crianças e adolescentes segue a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Contudo, a idade específica ainda será determinada em encontros futuros, envolvendo a Comissão Intergestores Tripartite (CIT), Estados e municípios. A estratégia visa atingir cerca de 3 milhões de pessoas, considerando a necessidade de duas doses para completar o esquema vacinal.
A incidência crescente da dengue no Brasil é um alerta sério para a importância dessa campanha. Os números alarmantes de casos e mortes nos últimos anos, com recordes históricos em 2022 e 2023, demonstram a urgência de ações eficazes. O Rio Grande do Sul, por exemplo, viu um aumento de 661% nos casos nas duas primeiras semanas de 2024, indicando uma situação preocupante.
A vacina Qdenga, aprovada pela Anvisa em março de 2023, apresenta um avanço significativo, sendo a primeira a abranger uma faixa etária mais ampla, dos 4 aos 60 anos. No entanto, a oferta restrita e a complexidade na produção desafiam o início da vacinação em larga escala.
Em meio a essas dificuldades, a Takeda se compromete a buscar parcerias com laboratórios públicos nacionais, visando acelerar a produção e atender à demanda do SUS. A empresa destaca os desafios no processo de fabricação de uma nova vacina, enfatizando a complexidade e a falta de flexibilidade de ajustes a curto prazo.
A expansão da dengue para regiões antes consideradas não endêmicas intensifica a necessidade de uma vacinação abrangente. O Aedes aegypti, vetor da doença, encontrou novos corredores, desafiando a visão tradicional sobre áreas de risco.
A decisão de incorporar a vacina ao SUS em dezembro de 2023 foi um passo crucial, tornando o Brasil o primeiro país a oferecer essa imunização no sistema público universal. Contudo, a capacidade limitada de fornecimento inicial destaca a complexidade envolvida na produção de novas vacinas.
A expectativa é que, com o tempo, outras vacinas sejam licenciadas, ampliando a cobertura vacinal. Enquanto isso, o desafio iminente é enfrentar a alta de casos, especialmente em estados como Paraná, Distrito Federal e Rio de Janeiro, que viram um triplo aumento na primeira semana de 2024.
Em um esforço conjunto, autoridades de saúde, laboratórios e a população precisam trabalhar em sintonia para superar os desafios e tornar efetiva a imunização contra a dengue. O comprometimento da Takeda em buscar parcerias nacionais é um sinal positivo, mas a jornada rumo à imunização abrangente está apenas começando. O Brasil enfrenta um teste crítico em sua capacidade de resposta a surtos epidêmicos, e a colaboração de todos é crucial para o sucesso dessa empreitada vital.
Referências
Ministério da Saúde, Takeda