A família de Henrietta Lacks está processando a empresa desenvolvedora de medicamentos para doenças raras Ultragenyx, pelo desenvolvimento e uso de tecnologia criada a partir de suas células, que foram retiradas sem o seu conhecimento ou consentimento em 1951. Tais células foram imortalizadas em uma linhagem celular que tem sido amplamente utilizada em pesquisas biomédicas desde então.
O processo, que foi iniciado no Tribunal Distrital de Maryland nos EUA, acusa a Ultragenyx de “enriquecimento ilícito” ao lucrar com o uso das células de Lacks sem a permissão da família. O processo ocorre logo após a família ter finalizado um processo por meio de acordo contra a fornecedora de suprimentos de laboratório e fabricante de instrumentos Thermo Fisher Scientific.
Em 1951, Lacks foi tratada de câncer cervical no Hospital Johns Hopkins em Maryland. Sem informá-la, médicos retiraram amostras de suas células para pesquisa e verificaram que era possível cultivá-las eternamente em laboratório. Essa linhagem celular recebeu o nome de HeLa, em homenagem às iniciais do nome da paciente Henrietta Lacks.
Desde então, as células HeLa se tornaram uma ferramenta de pesquisa importante e foram usadas para estudar bactérias e vírus, desenvolver a vacina contra a poliomielite e explorar o genoma humano. No entanto, Lacks, que faleceu aos 31 anos, e seus descendentes nunca receberam compensação pela contribuição de suas células na ciência, uma injustiça que foi trazida à atenção pública após a publicação de um livro em 2010 “A Vida Imortal de Henrietta Lacks” por Rebecca Skloot.
Mas tarde, a história de Henrietta Lacks tornou-se ainda mais popular com o lançamento do filme “A vida imortal de Henrietta Lacks” em 2017, disponível na HBO Max. Assista aqui o trailer do filme.
Baseado no livro de mesmo nome, o filme é um drama que conta a história de Rebecca Skloot (a autora do livro e, agora, personagem interpretada por Rose Byrne) na busca pela família de Henrietta Lacks.
Em seu processo, a família de Lacks alega que, apesar da Ultragenyx saber das origens antiéticas das células HeLa, a empresa as usou para desenvolver tecnologia para produzir vetores virais adeno-associados para suas pesquisas em terapia genética.
“A decisão da Ultragenyx de lucrar com as células de Henrietta Lacks sem permissão de sua família é um exemplo gritante de uma empresa de biotecnologia violando limites éticos em busca de ganho financeiro”, disse o advogado da família Lacks, Chris Ayers, em comunicado.
Uma das páginas do site da empresa traz um texto reconhecendo a contribuição de Henrietta Lacks através do uso de suas células:
De acordo com o site, a linhagem celular atualmente usada pela Ultragenyx foi derivada de células HeLa modificadas.
A família Lacks apresentou seu processo no mesmo tribunal onde ocorreu o processo anterior contra a Thermo Fisher. Esse processo foi iniciado em 2021 e também acusou a Thermo Fisher de lucrar com as células HeLa sem permissão. Um acordo para conclusão do processo foi firmado entre a família Lacks neste mês, mas os termos específicos não foram divulgados.
Ben Crump, advogado de direitos civis que representa a família Lacks, disse após o acordo que a família planejava apresentar mais processos semelhantes.
Atualmente, a Ultragenyx possui vários medicamentos biológicos aprovados para uma variedade de doenças raras. A empresa está desenvolvendo seis terapias genéticas, todas elas usando quais usam vetores virais adeno-associados.
Referências:
How the ‘groundbreaking’ Henrietta Lacks settlement could change research – Nature News
Imagem:
Wikimedia Commons