Fracassos: 5 importantes estudos clínicos que falharam no último ano

Mundo Farma

Os fracassos de testes clínicos são uma das realidades mais duras da pesquisa e desenvolvimento na indústria farmacêutica e o impacto de um fracasso pode ser de longo alcance. Alguns levam a uma deterioração vertiginosa da empresa, enquanto outros afetam o pipeline da indústria para determinadas doenças. Este último pode ser desolador para os pacientes.

De forma geral, o impacto do fracasso de um medicamento é mais profundo quando ocorre nas fases posteriores do desenvolvimento clínico mais próximas da linha de chegada. Embora as taxas de insucesso sejam menores no final do desenvolvimento em comparação com o início, nenhum medicamento é isento de falhar, mesmo na fase 3.

Uma avaliação feita em 640 estudos publicados na Contemporary Clinical Trials Communications mostrou que 54% das terapias novas falharam na fase 3. Destas, 57% fracassaram devido à problemas de ineficácia.

Os resultados decepcionantes dos estudos abrangeram uma ampla gama de moléculas em desenvolvimento, desde estágios iniciais até estágios avançados, e foram desenvolvidos para tratar uma variedade de doenças diferentes. Veja os cinco estudos mais impactantes que fracasram nos últimos meses.

1- Vacina de spray nasal para COVID

Desenvolvedor: AstraZeneca/Universidade de Oxford

Medicamento: Versão nasal da vacina para COVID-19 baseada no vetor adenovírus ChAdOx1

Importância do caso: Desenvolvedores de medicamentos têm buscado ativamente versões da próxima geração de vacinas para COVID-19 para superar algumas das limitações dos injetáveis. Neste cenário, os sprays nasais tornaram-se um alvo atraente para o desenvolvimento. Não apenas a rota nasal permite que o sistema imunológico ataque o vírus no momento de sua entrada no organismo, mas os sprays também podem ser uma forma mais simples de alcançar uma ampla distribuição em escala global.

Pelo menos 12 versões de sprays nasais de vacinas para COVID-19 estão em desenvolvimento, desde as fases pré-clínica até a fase 3, incluindo quatro candidatas em testes de fase 3. Vários desses estudos demonstraram resultados positivos e dois receberam aprovação regulatória, uma na China e outra na Índia.

Mas o campo sofreu um revés no final de 2022 quando a AstraZeneca e a Universidade de Oxford relataram que sua versão de spray nasal da vacina “não gerou um anticorpo mucosal consistente nem uma forte resposta imunológica sistêmica” em um pequeno teste de fase 1.

De acordo com os pesquisadores, o estudo é considerado o primeiro com dados publicados sobre uma vacina de vetor adenovírus usando um “spray nasal simples “, que os pesquisadores disseram ser mais fácil de administrar do que o spray aprovado na China, que requer um dispositivo nebulizador complexo.

2- Tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

Desenvolvedor: Biohaven

Medicamento: Verdiperstat

Importância do caso: Em setembro de 2022, a Amylyx Pharmaceuticals fez manchetes com a notícia do FDA de que seu medicamento para ELA havia sido aprovado. Parcialmente financiado pelo desafio online do “Ice Bucket Challenge”, que se tornou viral em 2014, o medicamento da Amylyx é o primeiro a receber aprovação da FDA para a doença desde 2017 e apenas o terceiro aprovado para ELA até então.

Mas no mesmo dia, a comunidade de ELA recebeu notícias decepcionantes da Biohaven, de que seu medicamento chamado verdiperstat havia falhado em um teste de fase 3 para a doença. Licenciado da AstraZeneca em 2018, o verdiperstat estava sendo estudado no Hospital Geral de Massachusetts com vários medicamentos experimentais para ELA. No final, o medicamento não conseguiu causar impacto na progressão da doença ou na sobrevivência em comparação ao grupo controle.

Apenas alguns dias após a notícia da Biohaven, a Clene Nanomedicine também relatou que seu medicamento para ELA não atingiu os objetivos primários e secundários em um teste de fase 2, reforçando novamente os desafios de desenvolver tratamentos para essa doença fatal. A empresa está agora procurando parceiros estratégicos e avançando com outros testes que testam o medicamento em uma dose diferente.

3- Tratamento de câncer de pulmão

Desenvolvedor: Novartis

Medicamento: Canakinumab

Importância do caso: A Novartis possui grandes objetivos na oncologia para desenvolver tratamentos que possam prevenir o câncer em indivíduos de alto risco. Em particular, a empresa focou no desenvolvimento de medicamentos que atuam no sistema imunológico e regulam a inflamação, o que acredita ser a “próxima fronteira” no tratamento do câncer.

No entanto, seus esforços em torno da reutilização do medicamento anti-inflamatório de doenças raras chamado canakinumab para tratamento do câncer falharam. Em agosto, a empresa relatou que o canakinumab falhou em seu terceiro estudo para câncer de pulmão de células não pequenas (CPNPC). O medicamento estava sendo testado para prevenção do retorno de tumores após a cirurgia. Foi a terceira falha de estudo de fase 3 para o canakinumab, que é aprovado para várias condições de febre periódica e uma forma rara de artrite.

A Novartis já havia falhado em convencer a FDA a expandir a aprovação do medicamento em 2018 como tratamento preventivo para certas condições cardíacas, e agora seus esforços para ampliar o uso do tratamento em CPNPC chegou a um beco sem saída. Um analista da Jefferies previu que uma aprovação expandida poderia aumentar as vendas do canakinumab para US$2 bilhões.

4- Tratamento da Esteatose Hepática não Alcoólica

Desenvolvedor: Intercept Pharmaceuticals

Medicamento: Ocaliva

Importância do caso: Considerada um “cemitério de desenvolvimento de medicamentos”, a esteatose hepática não alcoólica (EHNA) tem há muito tempo desafiado os pesquisadores. Isso motivou uma corrida para desenvolver o primeiro tratamento aprovado para essa indicação, com um valor estimado de US$35 bilhões.

Uma doença metabólica frequentemente decorrente da obesidade (ao invés do consumo de álcool), a EHNA pode desencadear cicatrizes, cirrose e até falência do fígado.

O medicamento Ocaliva (ácido obeticólico) da Intercept Pharmaceuticals, já aprovado para cirrose biliar, foi estudado para várias indicações relacionadas à NASH e está sendo avaliado de perto como um potencial pioneiro nesse campo. Por mais de um ano, a empresa esteve em conversas com a FDA sobre a aprovação do Ocaliva para pacientes com fibrose hepática devido à EHNA. No entanto, o recente fracasso do estudo para uma indicação diferente, mas relacionada – pacientes com cirrose compensada devido à EHNA – acabou com as esperanças da empresa.

Em setembro de 2022, a Intercept anunciou que o Ocaliva não atendeu ao seu objetivo primário no estudo chamado “Reverse”. Vários outros players importantes – incluindo Novo Nordisk, Alnylam e seu parceiro Regeneron, e Akero Therapeutics também têm candidatos para tratamento da EHNA a caminho.

5- Tratamento da depressão

Desenvolvedor: Relmada Therapeutics

Medicamento: REL-1017

Importância do caso: Após décadas de estagnação, o campo dos novos medicamentos para depressão foi revigorado nos últimos anos com a pesquisa e desenvolvimento (P&D) baseada em psicodélicos e dois novos produtos, o Spravato (spray de cetamina) da J&J, e o Auvelity da Axsome Therapeutics. Este último se tornou o primeiro medicamento oral de ação rápida para o tratamento do transtorno depressivo maior.

A Relmada Therapeutics tinha como alvo o uso da REL-1017 para depressão porque acreditavam ser uma abordagem inovadora que poderia fornecer uma opção para tratamento rápido.

Entretanto, em seu primeiro teste de fase 3, o medicamento não teve sucesso. Ele não apresentou melhora nos sintomas de depressão após quatro semanas de uso. A Relmada culpou uma “resposta ao placebo maior do que o esperado” e chamou os resultados de “decepcionantes”.

As esperanças da empresa agora estão focadas no desempenho do REL-1017, seu único ativo líder, em outros dois testes de fase 3, nos quais está sendo testado ao lado de outros medicamentos para depressão. A empresa indicou que resultados positivos desses estudos podem ser suficientes para justificar uma submissão ao FDA. Quaisquer falhas, no entanto, podem significar o fim para a Relmada, cujo único outro programa de desenvolvimento inclui “psilocibina e derivados” licenciados por meio de uma aquisição. A notícia do fracasso do estudo fez com que suas ações caíssem quase 80%.

Enquanto isso, o pipeline de novos candidatos promissores para tratar a depressão ainda é limitado. Uma análise do final do ano passado, de compostos que tiveram resultados positivos nas fases 2 ou 3 para a depressão, revelou apenas nove candidatos promissores demonstrando a necessidade contínua de inovação bem-sucedida nesse tema.

Imagem: Farma Network

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