O Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp inaugurou na segunda-feira neste mês de junho a Radiofarmácia do Serviço de Medicina Nuclear. Com a inauguração, daqui há dois meses, o HC da Unicamp passará a produzir diversos radiofármacos ainda não disponíveis no Brasil para aplicações médicas no tratamento do câncer. A síntese de radiofármacos une aplicações diagnósticas e terapêuticas num único fármaco, chamado de teranóstico.
Os radiofármacos que serão produzidos no HC da Unicamp serão o PSMA-gálio68 para câncer de próstata e em outros tumores, o PSMA-lutécio para terapia do câncer, o DOTA-galio68 para neoplasias neuroendócrinas, o DOTA-lutécio para tratamento do câncer neuroendócrino, o FES para diagnósticos do câncer de mama com receptor de estrogênio, o TAU para pesquisa avançada de demências e Fluoreto para diagnóstico de metástases ósseas.
“Um dos principais problemas da Medicina Nuclear em nosso país é o acesso a novos traçadores amplamente utilizados fora do Brasil. Com esse projeto, os pacientes terão acesso aos radiofármacos mencionados não só para diagnóstico como também para terapias”, explicou Barbara Juarez Amorim, coordenadora do Serviço de Medicina Nuclear do HC.
A Radiofarmácia ocupa uma área de 20 metros quadrados dentro da Medicina Nuclear, localizada no segundo andar do hospital. A reforma física da área teve o apoio do Cepid CancerThera, da Fapesp, com o aporte de R$ 150 mil reais. Já os equipamentos foram comprados com recursos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que é um dos braços da Organização das Nações Unidas (ONU).
No espaço foram instaladas duas cabines de segurança biológica, três pass throughs para passagem dos materiais em segurança entre os ambientes, um glove box para manipulação do iodo radioativo e um módulo de síntese para a produção dos radiofármacos. A sala é toda blindada e contém caixas para rejeito de radioativos e equipamento para controle de qualidade de endotoxinas.
Centro de Ensino e Treinamento
A inauguração da Radiofarmácia faz parte da implantação do Centro Nacional de Ensino e Treinamento em Radiofarmácia em Medicina Nuclear (NNM-RTC, sigla em inglês), uma parceria entre a Unicamp e a AIEA. O investimento total do projeto é aproximadamente de R$ 2,7 milhões de reais com a duração de quatro anos. O NNM-RTC tem como pesquisadora principal Elba Etchebehere, professora livre docente e médica nuclear e Allan de Oliveira Santos, como pesquisador assistente e médico nuclear, ambos do Serviço de Medicina Nuclear do HC da Unicamp.
Elba reforça que o objetivo do NNM-RTC é melhorar o manuseio das doenças na população brasileira através da promoção do uso rotineiro e em larga escala de radiofármacos para diagnóstico e terapias. O projeto também inclui atividades de capacitação de profissionais da área como missões com especialistas, visitas científicas e programas de fellows e a criação da residência em radiofarmácia em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, além do desenvolvimento de novas linhas de pesquisa em parceria com o Cepid Cancerthera.
“Não existe um modelo de Centro de Treinamento Nacional em Radiofarmácia e de residência em radiofarmácia no Brasil e na América Latina. Se viabilizarmos esse projeto, estaremos abrindo outras portas junto à ONU e a Unicamp será pioneira na implementação da residência em radiofarmácia”, disse Elba.
O médico hematologista da Unicamp Carmino de Souza e diretor executivo do Cepid CancerThera disse que há diversos projetos e pesquisas em parceria com o HC, com a Unicamp e com outras instituições brasileiras e estrangeiras que estão intimamente ligados à produção desses novos radiofármacos.
“O HC tem que ser um hospital de ponta e de referência no ensino, na assistência e na pesquisa. Por isso, queremos uma Medicina Nuclear moderna, bem equipada e bem instalada. Que esse serviço seja um modelo de estrutura de Medicina Nuclear”, destacou Cármino.
Expansão
A superintendente do HC da Unicamp, Elaine Cristina Ataíde, parabenizou a todos pela inauguração da Radiofarmácia e destacou o entusiasmo da equipe da Medicina Nuclear durante todo o processo de implantação do NNM-RTC e seus desdobramentos futuros.
“Queremos que o HC da Unicamp seja uma referência nacional e internacional em Medicina Nuclear, no uso da alta tecnologia e da inovação científica para o tratamento do câncer, gerando um movimento disruptivo em toda a área da saúde”, concluiu Elaine.
Para o segundo semestre desse ano está prevista a expansão da Radiofarmácia com a criação de um quarto terapêutico para os pacientes e a aquisição de um equipamento de SPECT CT de última geração para o planejamento das terapias de tratamento do câncer. Para 2025 está previsto o início da residência em radiofarmácia e a inauguração de toda a nova área da Medicina Nuclear.
Referências
Hospital das Clinicas da UNICAMP