De acordo com Ana Paula do Rego Menezes, médica e diretora-presidente da Hemobrás, assumir a direção da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia, trouxe diversos desafios, um dos quais é apresentar essa indústria de medicamentos, 100% nacional, ao povo brasileiro. Sua localização em Goiana, Pernambuco, contribui para um certo distanciamento da mídia e da população. Explicar de forma concisa as atividades de uma indústria de alta tecnologia e a produção de medicamentos complexos não é fácil, tornando a missão de fomentar a inovação, ciência, tecnologia e desenvolvimento no Brasil ainda mais desafiadora.
Segundo Ana Paula, a linha de produção é dividida entre hemoderivados e biotecnológicos. Os hemoderivados utilizam o plasma do sangue humano, transformando suas proteínas em medicamentos como albumina, imunoglobulina e os fatores de coagulação VIII e IX. Já os recombinantes, produzidos através de biotecnologia, não necessitam de plasma humano. Na Hemobrás, são utilizadas células de camundongos para produzir o fator coagulante VIII recombinante. Ambos os fatores permitem que pessoas com hemofilia tipo A façam tratamento profilático, melhorando sua qualidade de vida.
A Hemobrás já produz esses medicamentos, registrados e fornecidos ao Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo distribuição gratuita a milhares de usuários. Como muitas indústrias farmacêuticas, parte dos processos de produção é realizada no exterior. A Hemobrás está finalizando a transferência de tecnologia para que toda a produção seja realizada no Brasil.
Uma fase crucial da produção é a coleta de plasma de serviços de hemoterapia públicos e privados. Menos de 2% da população doa sangue regularmente, mas a Hemobrás está próxima de coletar 200 mil litros de plasma excedente por ano, com a meta de atingir 500 mil litros. Atualmente, 59 serviços são qualificados para esse fim, e ações estão em curso para fortalecer a Hemorrede, como a inclusão de R$ 100 milhões no PAC para a compra de equipamentos que aumentem a capacidade de armazenamento de plasma.
Muitas vezes, questiona-se se a Hemobrás dá prejuízo ao governo federal. Na verdade, a empresa registrou lucro nos últimos anos, repassando R$ 115 milhões ao Tesouro Nacional em 2022 e 2023. A capacidade de investimento cresceu de R$ 44 milhões para R$ 195,5 milhões de 2022 para 2023, gerando cerca de 700 empregos, com previsão de abrir mais 600 até 2026.
Além disso, a Hemobrás tem o potencial de influenciar positivamente a balança comercial. Com a produção 100% nacional prevista até o fim de 2027, economizaremos R$ 1 bilhão em cada unidade da empresa. Esse avanço criará uma cadeia nacional de fornecedores de insumos e equipamentos, com parceiros estratégicos como Sudene e Fiocruz.
A Hemobrás representa conquistas importantes para o Brasil. De acordo com Ana Paula, a empresa segue em sua missão de produzir medicamentos que melhoram a qualidade de vida da população que depende do SUS.