Recentes descobertas de pesquisadores da Universidade de Harvard trouxeram à tona preocupações significativas sobre o uso dos medicamentos Ozempic e Wegovy, fabricados pela Novo Nordisk. Esses medicamentos, amplamente prescritos para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, foram associados ao aumento do risco de uma doença ocular rara chamada neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), que pode levar à cegueira.
A Descoberta dos Oftalmologistas
A revelação foi publicada na renomada revista Jama Ophthalmology e foi fruto de um estudo observacional conduzido pelos oftalmologistas do Mass Eye and Ear, hospital afiliado à Harvard. O estudo foi instigado após três pacientes, todos em tratamento com semaglutida – o princípio ativo presente no Ozempic e Wegovy –, serem diagnosticados com NOIA-NA em uma única semana.
Para explorar uma possível correlação, os pesquisadores analisaram dados de saúde de 710 adultos com diabetes tipo 2 e 919 pacientes com obesidade, dividindo-os entre usuários de semaglutida e aqueles que usavam outros medicamentos. Os resultados mostraram que, ao longo de três anos, 8,9% dos usuários de Ozempic e 6,7% dos usuários de Wegovy desenvolveram NOIA-NA, comparado a apenas 1,8% e 0,8% entre os usuários de outras medicações, respectivamente.
Comparações com Outros Estudos
Outra análise, abrangendo dados de 17 mil pacientes ao longo de seis anos, reforçou esses achados. Os pacientes com diabetes tipo 2 que usavam semaglutida apresentaram um risco quatro vezes maior de desenvolver a doença ocular, enquanto aqueles tratados com o medicamento para obesidade tinham um risco sete vezes maior. Esses resultados são preocupantes, apesar de os pesquisadores não conseguirem estabelecer uma relação causal direta.
Reações e Implicações Futuras
Joseph Rizzo, um dos autores do estudo, enfatiza que, apesar dos benefícios significativos desses medicamentos, a discussão entre médicos e pacientes deve incluir a NOIA-NA como um risco potencial. Especialistas recomendam que pacientes informem-se sobre os riscos, mesmo que a probabilidade de desenvolver a doença seja pequena.
A Novo Nordisk, por sua vez, destacou que a segurança dos pacientes é uma prioridade e que o estudo possui várias limitações. A empresa argumenta que fatores como o tempo de diagnóstico de diabetes e hábitos de vida dos pacientes, como o tabagismo, não foram adequadamente considerados.
A Necessidade de Mais Estudos
Embora os resultados sejam significativos, os próprios pesquisadores de Harvard reconhecem que são necessárias investigações adicionais para confirmar a ligação entre a semaglutida e a NOIA-NA. Estudos maiores e mais diversificados são essenciais para determinar se o medicamento é de fato o causador da doença ocular rara.
Andrew Lee, neuro-oftalmologista do Hospital Metodista de Houston, ressalta que a diabetes é um fator de risco conhecido para a NOIA-NA e que pacientes com diabetes que se qualificam para o tratamento com agonistas do receptor GLP-1 podem estar em maior risco. Ele também reforça que, apesar de o estudo ser útil para identificar possíveis conexões, não pode comprovar causalidade.
Considerações Finais
Com o aumento da popularidade da semaglutida, não só para diabetes e obesidade mas possivelmente para outras condições, é imperativo equilibrar os benefícios dos medicamentos com seus riscos potenciais. A pesquisa contínua e a transparência nas discussões entre médicos e pacientes são cruciais para garantir a segurança e eficácia desses tratamentos.
Em meio à crescente demanda, a diversos países já enfrentam a escassez de Ozempic, levando a alertas sobre seu uso inadequado para fins cosméticos e a riscos de falsificação. Portanto, enquanto esses medicamentos oferecem promessas significativas, é vital que seu uso seja guiado por critérios médicos rigorosos e por um entendimento claro de seus possíveis efeitos colaterais.