Princípios da Qualificação – Parte 2

Boas Práticas Qualificação e Validação

A Importância do Design Higiênico na Indústria Farmacêutica

Considerar o design do equipamento para sua operação e, portanto, para o processo de fabricação e validação de processo são fundamentais. Entretanto, é crucial avaliar o impacto do design na facilidade de limpeza e consequentemente na validação de limpeza. Um pré-requisito fundamental para uma boa facilidade de limpeza e para evitar riscos de contaminação provenientes do equipamento é estabelecer um design higiênico.

O design higiênico exige que os equipamento e instalações sejam construídas de forma que as partes em contato com o produto sejam adequadamente acessíveis ao agente de limpeza e possam ser facilmente secas após a limpeza. Não é recomendável aguardar até que a validação de limpeza seja realizada para verificar se estão sendo usados materiais apropriados e acabamentos de superfície adequados para a limpeza. Os requisitos para um equipamento de fácil limpeza estão incluídos na URS e devem ser verificados durante o processo de qualificação. A facilidade de limpeza de uma planta, portanto, não depende exclusivamente do processo de limpeza individual, mas é uma característica intrínseca do design dos equipamentos.

O Design Higiênico não apenas garante um alto padrão de higiene, mas também permite uma operação mais econômica, maior segurança ocupacional e melhor proteção ambiental. Plantas difíceis de limpar exigem processos de limpeza mais elaborados, métodos e meios de limpeza mais agressivos e tempos de processo mais longos. As consequências são custos de produção mais altos, maiores riscos para o pessoal, menor disponibilidade da planta e geralmente volumes de águas residuais mais altos.

Para avaliar a facilidade de limpeza, todos os componentes que entram em contato com o produto devem ser avaliados. A norma ISO 14159 “Segurança de máquinas – Requisitos de higiene para o design de máquinas” está disponível para apoiar essa avaliação e pode ser usada para classificar componentes individuais em classes de higiene. Também serve como auxílio para a seleção correta de componentes e equipamentos e pode ser considerado como parte do processo de qualificação de design.

A análise de risco relacionada ao design higiênico da planta deve levar em consideração os materiais de construção usados e suas propriedades e acabamentos de superfície. Isso ocorre porque a escolha correta de materiais garante que não haja efeitos adversos no produto devido a reações entre o material, o produto e os meios de limpeza. Os requisitos para a estabilidade química e mecânica dos materiais em contato com o produto incluem:

  • Reatividade com o produto, agentes de limpeza e desinfetantes;
  • Resistência à corrosão;
  • Resistência ao envelhecimento, baixos coeficientes de expansão térmica e elasticidade em elastômeros;
  • Ausência de adsorção (acúmulo/adesão de substâncias na superfície);
  • Ausência de absorção (absorção de substâncias estranhas na superfície do material);
  • Adesivos, selantes e lubrificantes usados no sistema devem ser toxicologicamente seguros.

A condição adequada e o tratamento correto da superfície do equipamento em contato com o produto ajudam a garantir a facilidade de limpeza e, portanto, são decisivos para a redução dos tempos, ciclos e custos de limpeza. Problemas significativos relacionados à facilidade de limpeza de equipamentos surgem, por exemplo, devido a:

  • Superfícies ásperas;
  • Uso de materiais propensos a rachaduras, lascamento, descamação ou abrasão;
  • Má execução de soldas;
  • Degraus ou reentrâncias devido ao alinhamento incorreto;
  • Roscas expostas, cavidades e lacunas (por exemplo, em dobradiças);
  • Saliências e espaços mortos;
  • Estanqueidade insuficiente: risco de poeira, umidade e microrganismos.

Outros aspectos de risco de um design higiênico também incluem o design de tubulações e vedações:

1. Instalações secundárias e Extensões

Instalações secundárias (como os sensores) ou extensões (por exemplo, ramais) são frequentemente encontradas em tubulações. Isso pode representar um problema de fluxo e dificultar a limpeza. O mesmo se aplica às tubulações com mudanças frequentes de direção, pois podem se formar espaços mortos que não podem ser adequadamente enxaguados e limpos.

2. Vedantes

Vedantes devem ser evitados na medida do possível, porque estão sujeitos a inspeção e manutenção e, assim, aumentam o esforço de manutenção e limpeza. Isso se aplica à instalação de vedantes em tubulações de gás ou água, bem como em tubulações de produtos, por exemplo, na produção de formas farmacêuticas semissólidas.

A instalação de vedantes pode levar à formação de reentrâncias onde resíduos de produto e microrganismos tendem a se acumular. A eficácia das medidas de limpeza e esterilização muitas vezes não pode ser suficiente nesses espaços. Portanto, quando os vedantes são inevitáveis, deve-se tomar cuidado para garantir a pré-compressão/pressão definida para estanqueidade confiável e permanente no estado montado.

Os espaços de instalação da junta e as secções transversais da junta devem, portanto, ser projetados de tal forma que a pressão superficial necessária seja alcançada durante a instalação e, ao mesmo tempo, os materiais da junta não sejam submetidos a tensões excessivas.

Em relação aos elastômeros usados, sua resistência química ao produto fabricado, bem como aos meios de limpeza, desinfecção e esterilização, levando em consideração a temperatura, são considerações importantes. Além disso, os elastômeros devem ter alta resistência à abrasão, baixa porosidade e alta tolerância à pressão.

As plantas devem sempre ser autodrenantes para facilitar a limpeza, enxágue e secagem do sistema. Isso também deve ser levado em consideração ao instalar componentes, como tanques de armazenamento, bombas ou tubulações.

Resumo das Características do Design Higiênico

  • Estanqueidade para prevenir a penetração de microrganismos;
  • Qualidade de superfície, especialmente a baixa rugosidade dos materiais em contato com o produto;
  • Materiais de construção quimicamente e mecanicamente inertes, incluindo plásticos e elastômeros;
  • Compatibilidade de adesivos e lubrificantes;
  • Eliminação de espaços mortos;
  • Soldas higiênicas;
  • Compatibilidade entre os materiais;
  • Drenagem completa da planta;

Referências

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 658/2022 – Boas Práticas Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos.

Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Instrução Normativa IN nº 138, de 30 de março de 2022.

PIC/S PI 041-1 Good Practices for Data Management and Integrity in Regulated GMP/GDP Environments.

ISPE Baseline Pharmaceutical Engineering Guides for New and Renovated Facilities.

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