Um artigo publicado recentemente no The Lancet Neurology apresenta detalhes cruciais sobre o estudo de terapia gênica conhecido como Aspiro, conduzido pela empresa japonesa Astellas Pharma. Este estudo tinha como objetivo tratar a miopatia miotubular ligada ao cromossomo X, uma condição neuromuscular rara que afeta predominantemente meninos jovens e é muitas vezes fatal antes dos 18 meses de idade, comprometendo funções vitais como sentar, comer e respirar.
A pesquisa envolveu 24 meninos que receberam a terapia gênica AT132. Embora tenha apresentado resultados notáveis, permitindo que uma parte significativa dos pacientes começasse a se sentar sem assistência e até mesmo interrompesse o uso de respiradores, quatro mortes no grupo de tratamento obscureceram os resultados, desencadeando na suspensão do estudo desde 2021.
Os pesquisadores agora sugerem uma possível ligação com problemas preexistentes no fígado. Todos os quatro pacientes que faleceram tinham problemas hepatobiliares graves, em comparação com cinco dos 20 pacientes sobreviventes que receberam a terapia. A propensão de algumas crianças com miopatia miotubular ligada ao cromossomo X a ter doença hepática colestática era desconhecida anteriormente.
Os resultados notáveis, como a independência do respirador e a recuperação de atividades motoras, devem ser ponderados cuidadosamente em relação ao potencial de eventos adversos fatais em um contexto de doença ameaçadora à vida, destacam os pesquisadores liderados por Perry B. Shieh, professor de neurologia da Universidade da Califórnia, Los Angeles.
O Food and Drug Administration (FDA) suspendeu o ensaio clínico em 2020 para investigar as mortes de três pacientes de alto risco no grupo de tratamento. Embora tenha permitido a retomada com uma dose menor em dezembro de 2020, o único paciente tratado após a retomada também faleceu, levando a uma nova suspensão.
Os pesquisadores afirmam que a toxicidade observada no estudo Aspiro diferiu dos problemas hepáticos não colestáticos vistos em terapias gênicas aprovadas, indicando que as questões enfrentadas pelo AT132 podem ser específicas da população de pacientes, sem implicações mais amplas para a pesquisa em terapia gênica.
O artigo inclui dados até 28 de fevereiro de 2022, e a Astellas confirmou que não houve mortes subsequentes entre os 20 pacientes sobreviventes que receberam a terapia gênica. A empresa destaca o potencial do tratamento para pacientes com prognósticos ruins, incluindo a liberação de alguns pacientes do uso de respiradores.
Apesar dos contratempos e desafios do estudo, a Astellas mantém o compromisso de resolver a suspensão clínica da terapia, enfatizando sua promessa em melhorar o prognóstico para pacientes com essa doença ameaçadora à vida.
Referências
Safety and efficacy of gene replacement therapy for X-linked myotubular myopathy (ASPIRO): a multinational, open-label, dose-escalation trial. The Lancet Neurology. Doi.org/10.1016/S1474-4422(23)00313-7